Sobre a pesquisa "O que dizem os muros de Bragança?"
Mapeamento de uma cidade
Mapear visualmente uma cidade pode ter diferentes objetivos. De nossa perspectiva, partimos de uma estratégia de reconhecimento inicial para em seguida estabelecer padrões e buscar com isso significados.
A melhor compreensão do universo do graffiti, das configurações e permissões locais, além das negociações realizadas com o poder público, permitem a criação de critérios para a leitura dos muros da cidade.
Sobre o pesquisador
Tarcisio Torres Silva
Professor pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Professor visitante da Escola Superior de Educação, curso de Arte e Design, do Instituto Politécnico de Bragança, Portugal (2022/1).
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com estágio no departamento de Estudos Culturais, Goldsmiths College, Universidade de Londres.
Algumas descobertas
Este stencil é bastante confundido na cidade com o rosto do cantor Freddie Mercury. Na verdade, trata-se de uma homenagem a um personagem boêmio da cidade já falecido, chamado de "Maurício"
"Maurício"
Este painel, chamado "Bragança Ecocidade", próximo à Câmara Municipal, foi executado pela A.E. Emídio Garcia. Traz de um lado a figura de uma idosa e do outra a figura de um casal com um bebê. É uma proposta reflexiva de professores e alunos para pensar o envelhecimento da população nas aldeias e a renovação da vida.
Ecocidade
Na história da street art, os adesivos sempre representaram grandes instrumentos para divulgar o nome dos artistas, sendo um dos precursores desse tipo de prática Shepard Fairey. Mais tarde, as marcas também vão se apropriar desse recurso. Aqui, vemos o adesivo de Slamtype, D.J. da cidade de Mirandela.
Stickers
Os trabalhos do artista lisboeta Bordalo II são feitos com lixo reciclado. Dialogam com questões ambientais e o excesso de consumo. Há três obras suas em Bragança, todas representando animais. “Camaleão” (2014), “Gineta” (2015) e “Javali” (2015). Seu nome é uma homenagem ao seu avô Real Bordalo, que foi pintor (1925-2017).
Bordalo II
Uma das características da street art da cidade é sua ligação com as tradições e também com a história do país. Neste cartaz, vemos a figura do Cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), que nos anos 40 ajudou a salvar milhares de refugiados da guerra concedendo vistos, incluindo muitos judeus. Outros personagem histórico que aparece em cartazes e stickers é o rei D. Fernando II.
O Cônsul de Bordéus
Este graffiti artístico é inspirado em um dos quadros de Giovanni Bragolin, também conhecido como Bruno Amadio, (1911 - 1981), pintor italiano que ficou popular entre as décadas de 70 e 80 pela série de quadros intitulada “Gypsy Boys”, que representavam crianças chorando. As reproduções se tornaram recorrentes nas casas de vários lugares do mundo. Os quadros são também conhecidos pelas lendas urbanas em torno deles, que diziam que os quadros eram amaldiçoados, pois o pintor havia feito um pacto com o demônio. Os boatos fizeram com que muitas pessoas retirassem ou destruísses os quadros que antes enfeitavam suas casas
O menino da lágrima
Além do uso do próprio português, há registros nos muros da cidade do espanhol, do inglês e também croata. As críticas ao sistema e ao capitalismo é feita de forma mais recorrente em língua inglesa. Uma outra “língua” também aparece na inscrição “valar morghulis”. Trata-se de uma expressão na língua fictícia Alto Valiriano na série Game of Thrones, escrita por George R. R. Martin. Significa “todos os homens devem morrer”